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Inti Raymi – A Festa do Sol

“As primeiras brisas frias anunciam o momento de recolher. O instante mágico dedicado ao silêncio, à recomposição energética que se apresenta como um convite ao repensar mais profundo diante da fogueira, é sagrado. O Grande Lagarto se estende sobre as pedras frias, confiante e solitário, a fim de que possa sonhar o amanhã desenhando no Cosmo o respirar de cada criatura.

A hora de firmar com o Intento as aspirações mais elevadas é sutil e reforça a busca de reconexão com Pachamama, a Mãe Terra, em cujos seios estarão deitadas as ações de seus filhos, todos os filhos. Ainda que caminhando cegamente, ausentes de direção, aprisionados a uma existência antropocêntrica destituída de percepções maiores e mais ousadas, esses filhos são também uma parte da Criação, uma modesta parcela que independente de tamanho ou grau de importância, mas que pulsa e está viva.

Ignorante da existência de outros seres e mergulhado em uma soberba absolutamente bizarra, o homem parece fadado à ilusão, distorcendo com habilidade e precisão impressionantes toda a natureza do movimento cósmico simplesmente por não conseguir perceber sua própria dimensão, tropeçando na própria sombra, esquecido da luz e do brilho que reside em todos as coisas vivas.

Mesmo assim, com a chegada das brisas frias e a necessidade de recolhimento tão próprias da estação, Pachamama é generosa e assinala, incansavelmente, o convite para que suas fragmentadas criaturas dancem com as próprias sombras, à luz do fogo, trazendo aos espíritos a lembrança ancestral dos ritos do inverno, quando a Dança das Espirais é marcada pelo som dos tambores e orquestrada pelo movimento circular galáctico. Então, quando todos os filhos houverem experimentado a difícil descida aos mundos interiores, quando tiverem ouvido e libertado todos os ais ali depositados, poderão emergir gloriosos no movimento espiral em direção à Grande Luz.

Coloridas lanternas são acesas para que nenhuma alma se perca nesta “dangerosíssima” trilha e para que a metamorfose se opere quando o milho fizer estourar no fogo pequenas nuvens, a fim de que os olhos não se esqueçam de mirar os céus e os espíritos aflitos não percam de vista o eterno respirar dos sonhos”…

Pandora do Vale (Uma Guerreira da Tribo do Arco-íris)

Na Roda do ciclo anual (do hemisfério austral), o Norte está relacionado ao inverno, quando nada cresce e parece estar havendo uma pausa no mundo natural. Esse é um período de avaliação ou de consolidação. Talvez como uma pausa para pensar. Os pensamentos não estão presos ou limitados ao tempo, da mesma forma como não estão limitados a qualquer outra dimensão do mundo material. Ao contrário das nossas emoções, que dependem tanto do mundo que nos cerca como dos outros níveis do nosso Ser, os pensamentos são totalmente livres e criativos. A criatividade que nós temos é ímpar e única. O pensamento frio e abstrato, destituído da sua fagulha de criatividade, torna-se desumano e sem vida, da mesma forma como as pessoas necessitam do fogo para sobreviver no inverno. A diferença entre sabedoria e o conhecimento é que a sabedoria leva o conhecimento um passo mais adiante, aplica-o, sendo, portanto, algo vivo e criativo, ao passo que o conhecimento sem uso ou aplicação é um peso morto e inútil em nossa mente.

Quando o inverno chega com seu manto branco (a neve), ele purifica a nossa Mãe Terra, Pachamama, fazendo-a repousar enquanto as suas energias são restauradas para ressurgir na beleza e bençãos da Primavera. Durante esse período, nós temos que aprender a ouvir Pachamama, a todas as criaturas e nossos semelhantes; ou seja; a toda Criação. Só assim poderemos acessar a Sabedoria da Caverna de Cristal de nossos Ancestrais.

No calendário Andino, a data mais importante é 21 de junho, quando se celebra a Festa do Sol dos Inkas… o Inti Raymi.

No mês de junho o Sol segue até o Norte, onde se detém, e dali começa a retornar lentamente até o Leste.

O solstício de junho na Cosmovisão Andina é o mais importante, pois é nesta época do ano que os discípulos do sol vivenciavam altos níveis de iniciação, a fim de tornar-se “Maestros”.

Neste dia nosso planeta se encontra mas distante do Sol e recomeça lentamente seu retorno. Por isso é chamado de Ano Novo Solar.

No dia de Inti Raymi se realizam o maior número de celebrações sagradas, e preparam-se os novos iniciados nas tradições milenares andinas. No sentido energético, podemos mencionar que neste especial momento, ao começar a Terra a percorrer seu lento retorno em relação ao Sol, cria condições estelares propícias para grandes atividades espirituais e cerimônias mágicas, entre as quais, a mais importante é a iniciação realizada pelo Sol. Se a astronomia foi a ciência necessária para o crescimento ordenado da Sociedade Andina, os sábios e maestros entenderam que os dias dos solstícios e equinócios, não só marcariam o início de uma nova estação, mas que também geraria a freqüência energética necessária para as iniciações esotéricas de seus líderes.

Sentados ou em pé nas Huacas Sagradas, os primeiros raios de sol atingem primeiramente o centro coronário dos discípulos, queimando as cargas que não são mais necessárias em sua vida, abrindo assim sua visão interior e iniciá-los no mistérios maior de seu Ser. Desta maneira, os Amautas cumpriam, mais uma vez, a missão de perpetuar sua estirpe sagrada, iniciando novos seres de luz.

Este fenômeno iniciático, o solstício de junho, nos mostra que a astronomia não foi só uma disciplina para calcular os movimentos estelares, mas também a ciência solar para converter seres mortais em seres mágicos.

Não há preço a ser pago para ser um Iniciado Solar, basta abrir o coração e liberar a mente. Para mim a real iniciação vem através dos elementos de Pachamama e Wiracocha, e os homens são simples suportes para encontrarmos nosso próprio caminho.

Este é um grande momento para qualquer indivíduo, se estiverem algum dia nos Andes no solstício de junho, aproveitem a oportunidade deste benefício energético e sigam o caminho de Wiracocha: que nos levará ao fundo de nosso Ser. A iniciação de Pachamama e Wiracocha não vem através de uma pessoa, não vem através de um workshop ou seminário e muito menos comprando um pacote turístico; a iniciação vem pelo anseio de liberdade e vontade de transformar nossas vidas. Lembrem-se que com uma Iniciação há um câmbio de atitude, da nosso vida comum, por uma missão de serviço e ação para um mundo melhor.

O Inti Raymi é o dia em que a noite é a mais longa do ano mas, por conter em si a semente de luz – que começa a aumentar juntamente com a duração do dia-, é o momento adequado para vislumbrar o futuro, buscando presságios e sinais, meditando e confiando na voz interior. O Inti Raymi é uma alegria, uma celebração e confiança nas promessas do retorno da luz, da renovação e do renascimento.

Munay,

Wagner Frota

“Jaguar Dourado” (Xamanista e Fundador do Círculo Dragão da Terra Vermelha).