Lendas

Início » Poronominare

Poronominare

Contam os antigos, que o velho Cauará foi pescar na cachoeira Buburi e não falou aonde ia.

O sol já estava se pondo e ele ainda não tinha chegado, sua filha espantada com sus atraso, disse:

– Onde andará o meu pai? Ninguém sabe aonde ele foi, irei procurá-lo na beira do rio.

Logo, ela saiu, sem contar a ninguém aonde ia.

Quando ela encontrava-se na margem do rio, a Lua surgiu faceira no céu.

Fria luzia, clara como o dia.

Cansada, a jovem sentou-se, olhou para a Lua e viu sair do meio dela um vulto, que desceu a terra.

Nesse momento, ela sentiu muito sono e dormiu profundamente.

Quando acordou na manhã seguinte, a Lua já se encontrava do outro lado do céu.

Quis chorar porque o seu coração ficou triste.

Segundo contam, seu pai quando chegou em casa, à meia-noite, procurou-a e não a encontrou, então seu coração deu um nó.

Sendo um Pajé, logo ele procurou sondar, para ver onde estava sua filha.

Apareceu somente uma porção de sombras que cobriam sua visão.

Procurou cheirar o paricá, acendeu outro cigarro e voltou a sondar.

Então surgiu a sombra de um homem subindo da terra para o céu.

Ele quis pegar a sombra, mas seus olhos se fecharam e adormeceu.

Quando acordou, olhou para todos os lados e disse:

– Onde terá ido minha filha? Eu sondo, para ver onde ela está, mas sombras surgem na minha visão. Deixa estar, hei de encontrá-la, senão for aqui, será no céu.

Desde aquele dia, todos os dias Cauará procurava sua filha com sua pajelança.

Sua filha, foi descendo o rio de madrugada.

Naquele dia ela ficou em cima de uma serra, a Lua saiu mais bonita para ela, agora a luz do luar dançava nos olhos.

Como estava cansada, ela logo adormeceu.

Quando foi meia-noite, sonhou que paria um menino, dono de todas as coisas.

O seu corpo era translúcido, a sombra do dia nele aparecia de um lado para o outro.

Quando acordou, o sol já havia aparecido e a água fazia um barulho.

Olhou para todos os lados e se viu cercada de água por todos os lados. Avistou uma ilha rio abaixo e para lá nadou.

Quando estava chegando na ilha, um peixe mordeu-lhe a barriga, arrancando algo de dentro dela.

Em terra firme, ela sentiu sua barriga rasgada, colocou a sua mão nela e nada encontrou.

A água começou a subir, encobrindo a ilha, então ela correu até uma árvore tentando trepá-la, mas não conseguiu.

Uma Harpia vendo tudo aquilo que se passava, pousou num galho da árvore. Então ela disse para ele:

– Grande Harpia, está vendo só a minha angústia, me leva com você para o alto da árvore.

A Harpia então respondeu:

– Está bem, vou dar-te um feitiço, esfrega-o no corpo, e o que sobrar você engole.

Assim ela fez, e quando engoliu o feitiço da Harpia, transformou-se em Guariba e logo começou a trepar em cima das árvores.

Seu pai já tinha visto que o filho de sua filha estava na terra.

Ele jejuou durante diversos dias, procurar ver onde se encontrava seu neto.

Um dia viu pela sua sombra um povo com cabeça de pássaro, branco como o algodão.

Seu coração logo lhe disse para seguir em direção daquele lugar no mato para procurar seu neto.

Todo animal que vinha encontrando pelo caminho pensava que fosse seu neto.

Na margem de igarapé, encontrou aquele povo que tinha cabeça de pássaro.

Ele cantava com um Babaco, com sua linda pelagem azul-celeste com tons arroxicados.

O velho Pajé aproximou-se, deixando sua flechas no chão e disse:

– Meu neto, eu estou faminto, eis aqui meu arco e minhas flechas, vá caçar para comermos.

Dizendo isso, ele deu meia-volta e retornou pelo caminho de onde veio.

Quando estava já um pouco distante, parou e pensou:

– Quem sabe se este é mesmo meu verdadeiro neto, vou ver se é ele realmente.

Neste momento transformou-se num Teiú e voltou pelo caminho.

Quando o seu neto, que tinha a cabeça de pássaro, enxergou o Teiú passar por perto, transformou-se em gente, esticou o arco e flechou o teiú na cabeça.

O Teiú fugiu, deixando a flecha ali, quando já estava longe transformou-se em gente e disse:

– É mesmo meu neto, por pouco não me mata.

O neto do ancião, foi matando tudo que encontrava diante de si.

Quando a noite chegou, ele foi até o seu avô com uma porção de caça e disse:

– Meu avô, eis aqui a minha caça, as tuas flechas são boas, fugiu de mim somente um Teiú, porque a flecha lhe atravessou o corpo.

Logo depois, o ancião cozinhou a caça e disse:

– Meu neto, vamos comer, eu estou cansado, quero dormir.

Eles estavam começando a comer quando o moço viu a ferida na cabeça do avô e perguntou:

– Quem lhe fez esta ferida na tua cabeça?

Ele respondeu:

– Uma cigarra que bateu contra mim. O sol lhe queimou os olhos e agora ela voa à toa.

Quando acabaram de comer, o moço saiu no terreiro para aprender a flechar, o velho ficou em casa para sondar.

Nesta noite tudo parecia bonito na sua imaginação.

Ele viu sua filha já transformada em Guariba na ilha, preste a morrer de fome.

De madrugada, ele disse para o neto:

Meu neto, vamos a um lugar livrar das águas uma porção de animais que estão para ser afogados.

Logo, eles embarcaram na canoa e desceram o rio.

Quando chegaram na ilha, a água já estava a meia árvore.

A Guariba, filha do Pajé, estava magra, seus ossos saltavam a pele.

Toda vez que eles tentavam pegá-la, ela pulava para outra árvore.

– Esta Guariba não nos deixa chegar nela, vou jogar uma pedra nela, tu então a pega em seus braço que são mais forte do que os meus para que ela não bata contra a canoa. – Disse o ancião.

Assim o fizeram.

O moço ficou embaixo da Guariba e o avô atirou a pedra.

Quando ela estava caindo, transformou-se em mulher novamente.

O ancião desceu logo, quando chegou na canoa, encontrou sua filha, sua barriga estava grande, e dentro dela estava seu filho.

Em seguida o Pajé remou em direção a sua aldeia. E quando lá chegou disse para ela:

– Minha filha, vamos já para casa, lá tem comida para comeres.

Quando a moça acabou de comer, ficou com sono e dormiu, somente acordou no outro dia com o sol a pino e disse:

– Paizinho, sonhei muitas coisas bonitas, irei contar para ti. Sonhei que este filho que carrego dentro de mim, foi parido em uma grande serra. O seu corpo era transparente, seu cabelo preto, e ele falava. Quando ele nasceu, todos os animais vinham perto de nós para alegrá-lo. Fez-se noite, meu filho estava com fome, minhas mamas estavam secas, ele chorava. Então uns bandos de Beija-Flores e de Borboletas trouxeram nos lábios mel de flores e o alimentaram. Logo meu filho parou de chorar, seu rosto alegrou-se, e os animais o lambiam de alegria. Como eu estava cansada. Logo o deitei perto de mim, e adormeci. Quando acordei no outro dia, meu filho estava longe de mim o comprimento de uma flecha. Queria ficar perto deles e os animais não deixavam eu passar, então gritei para o meu filho. Neste momento, vi uma infinidade de Borboletas suspendê-lo e o trazerem para mi. Quando ele chegou perto, eu o peguei. Em seguida os animais me cercaram e ficaram encostados a nós. Eu senti ciúme do meu filho, levantei-o acima da minha cabeça, o peso dos animais me fez cair, mas meu filho ficou suspenso nas asas das Borboletas. Então acordei, pensava ainda que estava sonhando, olhei para todos os lugares para procurar meu filho, Logo depois ele mexeu dentro de mim, então me lembrei de tudo.

O ancião ouviu tudo com muita atenção no meio de um grande silêncio, e disse ao fim da narração:

– É muito bonito teu sonho, minha filha. Não se lembras, onde fica a serra onde esteve?

Ela respondeu:

– Não, paizinho, só o que sei é que o pé da serra começa na margem de um rio.

O Pajé, depois de ter ouvido o sonho da filha, foi sondar pela sua pajelança.

Ele viu que seu neto, ainda estava dentro de sua filha, era o dono da Terra. Esta noite seria o dia do seu nascimento.

Depois de sondar, o velho voltou para casa; a noite escondeu a Terra; um sonho tomou conta dele e ele dormiu.

No meio da noite, os animais da terra acordaram alegres, na sua alegria cantavam bonito.

O som do vento assobiava nas quatro direções.

Os pássaros voavam naquela noite, a procura daquele que havia nascido.

Já de madrugada, o ancião acordou espantado por ouvir um alvoroço tão grande e perguntou aos animais:

– O que se passou no meio de vocês?

Todos responderam:

– Nasceu Poronominare, o dono da terra e do céu.

– Onde?

– Na Serra do Jacamin.

Logo o ancião foi a Serra do Jacamim; quando lhe chegou ao pé, não pôde subir, porque tinha uma porção de animais também lá.

Transformou-se num Jacuruaru e subiu.

Poronominare estava sentado no cume da serra, com uma zarabatana na sua mão.

Ele estava dividindo a terra, mostrava a cada animal o seu lugar.