Um jovem de quinze anos vivia com seus pais, irmãos e irmãs numa pequena tenda. A família, embora pobre, era muito feliz e bem-disposta. O pai era um caçador a que não faltava coragem e habilidade, mas havia alturas em que mal conseguia sustentar os membros de sua família. Nenhum de seus filhos não tinha idade o suficiente para o ajuda-lo, às vezes as coisas ficavam difíceis. O rapaz era feliz e ativo, tal como o seu pai, sendo o seu maior desejo o de ajudar o seu povo. Tinha chegado a altura de abstinência sexual, obrigatória a todos os rapazes da sua idade. A sua mãe construiu-lhe uma tenda, preparada para tal, num local isolado, onde ninguém o pudesse incomodar durante sua provação.
Dentro daquela tenda, o rapaz meditou sobre a bondade do Grande Espírito que tornou as florestas e os campos bonitos para o prazer dos homens e dos animais. O desejo de ajudar os outros estava nele fortemente implantado e orou para que lhe fosse revelado, em sonho uma maneira de o fazer.
No terceiro dia de jejum, quando estava bem fraco para caminhar na floresta e, deitado, se sentia entre o sono e a vigília, um belo jovem veio até ele, vestido com um manto verde e plumas da mesma cor na cabeça.
“O Grande Espírito ouviu suas orações”, disse o rapaz cuja voz soou como o vento passando por entre as relvas. “Escuta-me atentamente e o teu desejo será concretizado. Levanta-te e luta comigo”.
O rapaz obedeceu. Embora seus membros estivessem fracos, o seu cérebro estava lúcido e ativo e ele pensou que não poderia fazer outra coisa se não obedecer aquele estranho de voz suave. Depois de uma longa e silenciosa luta o belo jovem disse:
“Já chega por hoje. Amanhã estarei de volta”.
O rapaz estendeu-se no chão, exausto, mas no dia seguinte, o estranho de verde reapareceu e a luta foi retomada. À medida que a luta continuava, o jovem sentia-se cada vez mais forte e confiante. Antes de o deixar pela segunda vez, o visitante dirigiu-lhe algumas palavras de elogio e coragem.
No terceiro dia, o rapaz, pálido e fraco, foi de novo chamado para combater. Ao agarrar o seu adversário, o próprio contato parecia conferir-lhe nova força, o que fez com que continuasse a lutar cada vez com mais bravura, até que seu flexível companheiro foi forçado a gritar que já bastava. Antes de partir, porém, o belo jovem disse-lhe que no dia seguinte poria fim às suas provas.
“Amanhã o teu pai vai trazer-te alimento, o que te ajudará”, disse. “À noite, voltarei para lutar contigo. Sei que está destinado a ganhar e a obter o teu desejo. Quando me tiveres derrubado, despe-me dos mantos e das plumas e enterro-me no local onde eu cair, nunca esquecendo de manter a terra que me cobre úmida e limpa. Uma vez por mês certifica-te de que meus restos mortais são cobertos com terra nova. E ver-me-ás, de novo, vestido com meus mantos verdes e com minhas plumas”. Dizendo isto, desapareceu.
No dia seguinte, o pai do rapaz levou-lhe comida; mas o jovem suplicou-lhe que a comida fosse guardada até de noite. Mas uma vez, o estranho apareceu. Embora não tivesse comido nada, a força do herói, como antes, parecia aumentar a medida que a luta ia se desenrolando até que, por fim, derrubou seu adversário. Depois, despiu-o dos seus mantos e plumas e enterrou-o, não sem sentir pena de ter matado um jovem tão belo.
Estando a sua missão cumprida, voltou para junto dos seus pais e depressa recuperou toda a sua força nunca esquecendo, porém, a sepultura do seu amigo. Nem uma erva sequer conseguia lá crescer e, finalmente, ele foi recompensado. As plumas verdes começaram a aparecer ao cimo da terra, transformando-se em graciosas folhas. Quando o outono chegou, ele pediu ao pai que o acompanhasse ao local. Por essa altura, a planta crescera e estava no seu auge, alta e bela, com folhas esvoaçantes e espigas douradas. O seu pai ficou surpreso e admirado.
“É o meu amigo”, murmurou o rapaz, “o amigo dos meus sonhos”.
“É Mon-da-Min”, disse o pai, “o grão do espírito, a dádiva do Grande Espírito”.
E foi dessa formas que o milho foi doado ao Índios.