Napaykuna!
No Ocidente, fomos ensinados que o tempo flui em apenas uma direção; que o futuro está sempre à nossa frente e que o passado está sempre atrás de nós. Também aprendemos que seu princípio operacional é a causalidade, ou causa e efeito, em que o passado sempre se espalha para informar o presente.
Por outro lado, a concepção indígena de tempo está mais atenta aos ciclos da natureza e entende que o tempo não só avança como uma flecha, mas também gira como uma roda. Por exemplo, as estações do ano se repetem, a noite e o dia se alternam, e a expiração segue a inspiração. Os ciclos se repetem, mas sem retornar ao ponto de partida exato, conforme uma evolução é observada. De um verão para o outro, a criança é mais alta, o adulto tem mais rugas e muita coisa aconteceu dentro de uma comunidade. Portanto, essa percepção do tempo é mais como uma espiral.
Para um xamã de alto entendimento, esse tempo espiral não apenas se move para cima ou para baixo como uma mola, mas também se enrola em si mesmo muitas vezes, fazendo com que um evento futuro ou passado se cruze com o momento presente. Assim, a causalidade deixa de ser o único princípio operante na realidade temporal e há espaço para a sincronia, ou seja, para a coincidência dos eventos.
O xamã, portanto, entende que um encontro casual entre pessoas pode ser tão ou mais informado por um relacionamento futuro do que por uma causa passada. Ou, por exemplo, se alguém perde o trem, não é apenas por causa do alarme que não disparou pela manhã ou do trânsito intenso na cidade, mas pode haver um importante motivo futuro para que alguém tenha que embarcar em outro trem mais tarde.
O xamã que opera com essa noção de tempo está ciente do grande tear que é a vida e, por sua vez, do fio com que é tecida, e do Grande Tecedor ou Tecelão que a tece. É por isso que ele ou ela está muito mais interessado no propósito e significado de um evento do que em sua causa.
Munay,
Wagner