Napaykuna!
Quando da chegada dos invasores europeus, existiam diversos tipos de xamãs, a maioria estava distante das antigas tradições e inconscientemente saudosos dela. Muitos se aproveitaram da memória cultural dos povos para manter o poder e a vaidade. Havia outros visionários que tinham sensibilidade espiritual aflorada, mas faziam interpretações equivocadas das visões e dos sinais. Alguns acabaram com seus povos, levando-os por caminhos errados. Mas existiam outros, silenciosos, reclusos, habitantes de cavernas, do interior da floresta ou do alto das montanhas, que procuraram ensinar sempre que eram solicitados. Foram estes últimos que mantiveram viva a chama da tradição ao transmiti-la de geração em geração.
Julia Flores Farfan
A Tradição Iniciática Nativa Andina (TINA) faz parte de uma linhagem que reúne tradições e conhecimentos xamânicos ancestrais dos nativos sul-americanos em seu sistema ritualístico e de crenças, deslocando e ampliando significativamente os sentidos e as possibilidades inscritas na sua origem. A etnografia que apresentamos, aponta para um contexto de discursos e práticas bastante diversificadas, no qual se entrecruzam objetos e símbolos xamânicos, especialmente de referência andina, com valores ecológicos de preservação ambiental, com uma espiritualidade centrada no aperfeiçoamento do self, o desenvolvimento da consciência e do Campo de Energia Luminosa.
Os yachacs da nossa Tradição não são xamãs comuns, videntes, curadores ordinários, herbalistas ou parteiras. Eles são herdeiros dos Guardiões da Terra, aqueles Guardiões da Sabedoria que chegaram nas Américas há 20 mil anos, e antes disso, caminharam pelas savanas africanas, pelo Himalaia, cruzaram as planícies da China até a Sibéria, atravessaram o Estreito de Bering, as montanhas rochosas e se estabeleceram na América do Sul, encontrando-se com outros xamãs pertencentes a uma civilização outrora sofisticada que vivia no Planalto Central Brasileiro e migrando para o norte até o Amazonas, enquanto outra parte foi em direção aos Andes. Na sua peregrinação até as montanhas andinas, alguns destes Guardiões se reuniram a xamãs de outras civilizações na Meso-América e passaram a pertencer a linhagem dos Olmecas e Toltecas, se estabelecendo naquela região. As duas linhagens são guardiãs de antigas iniciações que se tornaram Seres Luminosos.
Os Seres Luminosos são a nossa linhagem da medicina. São seres humanos que atingiram um patamar mais alto. Alguns estão nos corpos, outros apenas em forma de espírito, mas todos têm uma missão: cuidar do bem-estar do Planeta, da nossa Mãe Terra. Os budistas os chamam de Bodhisattvas, os nativos das Américas, de Homens-Águias, verdadeiros seres alados que são os melhores aliados espirituais que alguém pode ter, e nos fornecem conhecimentos sobre como nos tornarmos um deles. Isso é o que as profecias andinas nos querem dizer quando falam que temos o potencial para nos tornarmos um Chacha Puma, Homo luminous (Homens luminosos, seres de luz).
Quando trilhamos o Caminho do Dragão, ao sul, e despertamos memórias ancestrais, não somos nós, enquanto indivíduo, que estamos lembrando, pois só podemos nos lembrar dos eventos da nossa vida. É como atravessar uma fenda que separa os dois mundos e assumir o seu lugar entre os que nasceram duas vezes, entre aqueles que venceram a morte.
O que aqui será transmitido é uma pequena parcela de um conhecimento maior, que permeia e perpassa a dignidade do verdadeiro legado vivo do nosso continente.
Fazemos parte de uma linhagem ancestral dos Runac Allincapac (sábios americanos primogênitos), os Hamawttas (sábios andinos primogênitos), de um saber que remonta ao princípio dos tempos nas Américas. Somos apadrinhados pelo Sol e pela Lua, guiados pela Mãe Terra, Pachamama, pelos Chacha Pumas, pelas Águias-xamãs, e outros seres do Mundo Mítico Andino que também nos protegem. Nossa missão é ampla e infinita.
A TINA é formada por um grupo de indivíduos engajados em vivências que os remetem a culturas dos povos originários das Américas que se apresentam como fonte de inspiração para seu caminhar na Terra. Seus participantes se propõem a assumir um modo de viver que se expressa por meio de uma vida simples e devotada à nossa Mãe Terra, e de uma conexão com os ancestrais nativos da América do Sul, especificamente. Essa filosofia de vida torna-se condição para eles atingirem um conhecimento cada vez mais profundo de si, seu bem-estar individual e coletivo. Sua legitimação social procura respaldar-se tanto na origem e sabedoria xamânica sul-americana, das quais se apresenta como herdeiros quanto nos valores recentes de uma ética ecológica de preservação da natureza e do planeta, que adotam como ascese pessoal e grupal.
Nossa missão é honrar os ensinamentos da sabedoria sagrada dos Andes e compartilhar essa tradição para todo o mundo, com reverência, humildade e paixão. Estamos comprometidos em auxiliar os seres humanos a se desenvolverem espiritualmente e, consequentemente, ajudando a humanidade na sua evolução cósmica. Valorizamos a importância de honrar uma profunda ligação com a Mãe Terra, com o outro e com nossos ancestrais para a criação de um belo legado para as gerações futuras. É por isso que a TINA se dedica ao estudo, preservação e transmissão do conhecimento xamânico e realização de cerimônias e ritos que desenvolvam a nossa consciência e o crescimento pessoal.
Princípios da Linhagem dos Andes:
YACHAY – Se aprendes alguma coisa, aprenda bem. E depois ensine com alegria e honestidade, dialogando e escutando.
MUNAY – Se amas, ama bem. Compartilha com carinho e humildade.
LLANK’AY – Se faz, faça bem. Com sabedoria, alegria e energia. Trabalha por tua família, tua comunidade, pela humanidade e pela Terra. Se errares, corrija-te e siga diante com firmeza.
KAWSAY – Ama, respeita e protege a vida com a tua vida. Honre e agradeça a nossos antepassados que te deixaram como herança o que agora podes desfrutar. Lega aos nossos descendentes um mundo harmonioso, com bem-estar e abundância para todos.
AYLLU – Reconheça-te nos demais, que são você mesmo. Cria e deixe-se criar. Respeite as diferenças com tolerância, em integração e complementaridade.
AYNI – Partilhe com todos os seres que te rodeiam. Lembre-se que para receber, primeiro tens que dar.
K’INTU – Ofereça o melhor de ti mesmo, de teu entendimento, sentimento, de seus anos, e conselhos.
CHIQA – Reconheça a realidade para além da tua verdade e entenda a verdade dos outros sem pretender impor a tua.
Os andinos, desde sua infância, aprendem a Lei da Reciprocidade, o ayni, que é o processo de convivência dos diversos mundos do ecossistema andino. Nesse aprendizado, aprendemos a ter uma convivência fraterna com os animais, os vegetais, a terra, as deidades naturais e com as outras pessoas, sabendo que ninguém é mais, nem menos importante que o outro. Todos são essenciais para o bem-estar (Sumaq Kawsay) e a harmonia da comunidade.
O significado literal de ayni é dar e receber. Ayni é a arte sagrada da reciprocidade. Na Tradição Iniciática Nativa Andina, essa é uma lei cósmica que deveria ser adotada por toda a humanidade. Camponeses auxiliam-se mutuamente, pois sabem que mais importante do que saber dar é saber receber. Essa relação também funciona com a Pachamama e os Apus. As oferendas (despachos) à Mãe Terra são uma devolução ao que ela nos dá mediante os frutos e ervas que nos alimentam e curam. Ocorre o mesmo com os k’intus de coca que são intercambiados entre irmãos (wawqis) na cerimônia do hallpaykusunchis, no qual eles dão e recebem k’intus.
A reciprocidade consiste em dar e receber, ajudar e receber ajuda. O ayni é acreditar que o segredo da vida está em entender que tudo que acontece no interior da pessoa, ocorre no seu exterior, e tudo que sucede no exterior, acontece no interior do indivíduo. Existe algo que o conecta, que o interconecta com o conjunto. Portanto, o benefício do ambiente é também o benefício do sujeito, e vice-versa. É o fluxo constante de energia.
A meta de todos os membros da TINA é a de conseguir o ayni perfeito com os três mundos da cosmologia, pois só assim se atingirá o quarto mundo, o Taripay Pacha. Para que isso ocorra, ele tem que ter uma relação síncrona com a natureza destes três mundos (Hanan Pacha, Kay Pacha e Ucku Pacha) e com o ego. A vida para os yachacs é um espelho da nossa relação com a natureza, e ayni é caminhar com beleza e amor por toda vida. Também significa pisar com graça e ternura na superfície de nossa Madre Tierra, Pachamama. Tudo que fazemos à Mãe Terra, recebemos na mesma proporção. Baseado nesse equilíbrio é que os povos andinos sempre realizam suas oferendas a Pachamama. Acreditamos que não haveria a ameaça de extinção se os homens aprendessem com essa grande sabedoria milenar.
A Tradição
A palavra “Tradição” não significa um corpo de crenças, mas um conjunto de práticas eficientes orientadas para que o praticante alcance os mais altos níveis de consciência e percepção. Para nós, a figura do mestre como estamos acostumados a pensar nas sociedades ocidentais e, inclusive em algumas sociedades não ocidentais, não existe. Estamos acostumados a aprender diretamente do Espírito. O homem ou mulher de conhecimento, o xamã, é um mero veículo que incentiva o praticante a buscar o Espírito nos lugares sagrados. Não há livros, ensinamentos formais e mestres humanos. Há somente um conjunto de ações específicas que constituem, em si mesmas, uma forma de tocar a porta do Spíritu; se Ele abre a porta, o aprendiz começa então a caminhar. Não pode simplesmente escutar acerca do Spíritu, deve vê-lo e escutá-lo por si mesmo, sem intermediários. Essa é a forma da nossa Tradição.
Estamos interessados em sobreviver e manter viva a Tradição Ancestral, porque essa é a nossa forma de assumir e manter nossos campos de energia como verdadeiros filhos e filhas do Sol, com a mesma natureza e amor da nossa Grande Mãe, a Terra. Nossa mensagem é: “Somos filhos do Sol e nossa natureza é brilhar!”
Esse conhecimento se expressa na nossa tradição e forma de vida. A TINA se baseia principalmente na busca do equilíbrio das duas partes que formam a natureza humana como seres duplos: paña e lluq’ (lado material e espiritual). Essa integração entre o nosso ser cotidiano e o outro eu, há de refletir na vida de quem pratica essa Tradição. Baseia-se também no conhecimento de nossa relação com todos os campos de energia que nos rodeia, desde os Grandes Poderes, como a Terra, o Fogo, a Água, o Vento, a Lua e o Sol, até nossa relação com as pessoas e a natureza ao nosso redor. Nosso caminho é a busca incessante de uma relação harmoniosa e de reciprocidade com tudo aquilo que nos rodeia.
A meu ver, a TINA não se refere somente a uma história ou nacionalidade específica, mas a uma poderosa expressão do espírito humano em busca da expressão de sua verdadeira natureza. A luta para ser verdadeiramente o que somos. Nossa Tradição não é mais uma religião, nem sequer um corpo de crenças. É um conjunto de práticas espirituais cuja característica principal é sua capacidade de nos permitir entrar nessa outra região de nossa consciência que chamamos de outro eu, o nagual, em que recuperamos nosso poder como seres duplos e percorremos o caminho de retorno às estrelas.
A TINA é um caminho aberto para todos, não importando sua nacionalidade e crenças religiosas. Um caminho para fazer da vida uma experiência de plenitude e do mundo um melhor lugar para viver. Nossa Tradição é simplesmente a expressão moderna das antigas práticas dos Sábios Andinos, as quais se estruturam de acordo com as características e necessidades do mundo moderno.
Consideramos nossa Tradição como uma universidade espiritual, que se caracteriza pela incorporação de um modo de viver xamânico dos povos sul-americanos. Ao optar por um modo de vida mais simples e dedicado à Mãe Terra, o membro da TINA espera atingir um conhecimento cada vez mais íntimo de si, conectando-se com a Mãe Terra, aliado ao Poder Ancestral, o Spíritu criador de todas as coisas, e de acordo com a mitologia xamânica. A inserção na Tradição Iniciática Nativa Andina visa justamente proporcionar experiências que auxiliem os sujeitos a resgatar a comunhão que os ancestrais andinos mantinham com o Cosmos em todas as suas nuances. Apesar da referência direta aos povos andinos, a exemplo de diversas outras culturas xamânicas latino-americanas, a TINA não pertence ao movimento neoxamânico, mesmo que suas crenças, práticas, ritos e ensinamentos formem um mosaico de elementos de diferentes origens e tradições, dentre as quais se destacam os rituais andinos e amazônicos que se alinham com tradições pré-cristãs e cristãs, orientais e xamânicas, psíquicas e místicas.
Apesar de essa Tradição ter se originado a mais de sete mil anos, ela foi oficialmente criada no século XVI, quando da queda do Império Inka, pelos seus sobreviventes que fugiram para os altos das montanhas andinas e selvas. Grande parte de seus membros vivem em aldeias nativas sul-americanas, alguns vivem espalhados em diversas cidades no meio urbano e outros são nômades que, em suas andanças, compartilham os ensinamentos ancestrais por onde passam.
A partir desse momento, passamos a estruturar nossos conhecimentos e compartilhá-los oralmente, no início de pai para filho, mas com o decorrer dos séculos, com aqueles que vieram com humildade e sinceridade até nós, buscando a sabedoria ancestral dos povos originários do nosso continente.
Por sermos andarilhos, passamos a conhecer outras culturas xamânicas e trocamos nossos conhecimentos, pois a vida é uma relação de troca (ayni) constante de energia entre as coisas e a natureza. Dessa maneira, a Tradição Iniciática Nativa Andina passou a incorporar novos elementos culturais de outros povos das Américas. Na maioria das tradições, andinas, amazônicas e tropicais, existe um casal divino, tais como: Pacha Awki (Pai Cósmico) e Pacha Tayka (Mãe Cósmica) entre os povos bolivianos; Wiracocha (Pai Céu) e Pachamama (Mãe Terra) no Peru; Papatuá e Mamantuá na Amazônia; Ñanderu e Nãndecy entre o povo Guarani. Além disso, todos saúdam o Sol e a Lua. Infelizmente a Mãe Céu e o Pai Terra caíram no esquecimento da maioria dos povos latinos, mas nós, da Tradição Iniciática Nativa Andina, ainda os honramos e temos alguns templos que o simbolizam nos Andes, fazendo com que eles não sejam esquecidos ou apartados de nós e lembrando que trazemos em nossa essência sagrada o princípio feminino e masculino, pois somos um Só que pertencemos ao Todo, que também o é.
Os calendários de todas essas culturas são agrícolas e, sendo assim, seguem o movimento de expansão e de contração das estações climáticas do Hemisfério Sul. Portanto, o ano tem início na primeira lua nova após o Solstício de Inverno, e termina na última lua minguante após o outono. Convencionou-se que o ano novo solar andino começa no dia 21 de junho, mas aqueles que são mais tradicionais o celebram somente na primeira lua nova após o Solstício de Inverno. Em nossos ritos, sempre encenamos o ciclo solar começando pelo Leste e indo até o Sul no sentido anti-horário. Sentimos em nosso corpo a energia das estrelas, mas temos que estar com os pés no chão para senti-la. O Sol é a nossa fonte de vida, sem ele nada neste mundo existiria. Por isso nossos ritos trabalham o alinhamento das forças telúricas e cósmicas. Aqueles que chegam pela primeira vez a trilhar o nosso caminho, têm dificuldade de libertar-se de todo o condicionamento que a sociedade impõe. Por isso, realizamos uma série de ritos iniciáticos, iguais ao que você irá passar, para que tenha uma percepção plena da natureza como fonte primeira de tudo que somos. Fonte viva!
Tayta Matzú, meu Mentor Kallawaya, assim que o conheci me contou que:
“Quando jogamos uma pedra numa lagoa, ela gera ondas, e outras ondas mais são geradas. O mesmo ocorre quando um homem e uma mulher têm uma relação sexual. A energia ali gerada atua em outros mundos. Havendo uma fecundação, a energia que gerará um novo Ser estará conectada a outros eventos, ou seja, o Ser que irá se desenvolver no útero estará ligado a toda a Natureza. Após nascer e respirar com seus próprios pulmões, ele irá romper sua dependência total e assumir sua primeira posição singular no existir. Ao darmos nosso primeiro alento, nos impregnamos da energia astral que está naquele momento incidindo sobre a Terra. Tal energia atua principalmente no chacra cardíaco, e o marca com as energias cósmicas circundantes – tendências que vão nos acompanhar por toda vida. Mas, ao lado da energia cósmica, possuímos também outro espectro de energia, que é a telúrica. Temos cada um de nós uma planta de poder, uma pedra de poder e um animal de poder. No momento de nossa fecundação essas forças se uniram a nós. E conosco continuaram, quer tenhamos ou não consciência disso. Parte das enfermidades, principalmente as neuroses e carências dos seres humanos, resultam dessa perda de contato com a energia mais fundamental de todas – A da Mãe Terra.”
A função dos xamãs é a de sacralizar a natureza no seio da consciência humana. Perceba que o humano, com suas construções e forma de vida, tomou o espaço da Mãe Natureza, desequilibrando seu campo energético. Os yachacs têm a missão de devolver à nossa Mãe o que é dela, sua plenitude. Para isso, trazemos em nossos corações marcas que afloram e se descortinam no momento adequado, nos conduzindo a tomar ações combativas à ignorância e ao descaso, que vai desde histórias a serem contadas ao redor das fogueiras, a curas com a simplicidade da palma das mãos, das ervas, dos sons, sopros, tambores, pensamentos, intento e palavras, poesia e arte que tocam as essências dos seres com a Essência do Ser. Somos mensageiros do Céu e da Terra, nosso trabalho é uni-los dentro de nós mesmos e alquimizar ambas as forças na fornalha alquímica que é o nosso coração, derramando a força Telúrica e Etérea com nossos olhares pelos quatro cantos do mundo.
Ao redor do fogo sagrado, quando da iniciação, assumimos o compromisso de levar tais forças da melhor maneira possível, para todos e tudo aquilo que encontrarmos, às vezes, utilizando como argumento apenas o silêncio, outras, fazendo bastante barulho. Viemos para dançar com todos os minerais, vegetais e animais, e assim, declarar amor, fraternidade e cooperação entre todos os seres. Reconhecendo que nós, humanos, em nada somos superiores a nenhum outro ser, somos apenas mais uma peça no grande jogo da criação, e devemos oferecer respeito e gentileza a tudo o que vive, sejam animais, plantas ou pedras. Na caminhada, cada um encontra sua missão, ou é por ela encontrado, mas para isso, há de se caminhar, logo, há de ser um andarilho.
Como vocês bem sabe, todos nós possuímos um campo energético que envolve o corpo físico, ao qual chamamos na nossa tradição de Campo de Energia Luminosa, Poq’po. Quando o Spíritu, o princípio feminino e masculino da criação, criou o Cosmos, dotou os seres humanos com um corpo luminoso em que os ñawis (chacras) têm em seu conjunto as cores do arco-íris, mas, devido a uma série de eventos na nossa história de vida, eles ficam embotados e se tornam cinzas ou negros, sendo necessário realizar uma série de ritos para limpá-los, e assim, voltarem ao seu esplendor original. Os ñawis perdem a cor primária devido, principalmente, à falta de energia e a constante agitação da mente com o excesso de pensamentos que nos perturbam diariamente, tendo o “Eu” como centro dos nossos pensamentos e ações. Vivemos em constante diálogo interno e isso prejudica a nossa energia vital, kawsay, fazendo com que ela fique agitada e acabe sendo dirigida para a periferia do nosso Campo de Energia Luminosa, prejudicando a nossa saúde e nos deixando sem energia.
Para evitar que prejudiquemos nossa energia vital, foram criados diversos procedimentos para nos auxiliar a relaxar e calar esse diálogo interno. E que é importante, antes de se realizar essas práticas, termos realmente o intento de fazê-lo, pois só assim funcionará.
As condutas que devemos ter são:
- Agir calmamente, sem pressa alguma, tal como uma semente que cresce lentamente até chegar ao seu esplendor.
- Não levar nada para o lado pessoal, sua história é sua e as outras pessoas vivem as delas. Ao levar as coisas para o lado pessoal, geralmente reagimos e sentimos mágoa, o que é um veneno para nós. Por isso, evite também se desgastar em debates.
- Ser impecável com as palavras, evitando principalmente as autoafirmações. A palavra termina criando a nossa história. Devemos dizer apenas aquilo em que acreditamos, procurando usar o poder da nossa palavra na direção da verdade e do amor.
- Perder a autoimportância, ou seja, não tirar conclusões ao seu respeito.
- Apagar sua história pessoal. Para que isso ocorra, é necessário redirecionar sua energia para uma série de tarefas fora do seu cotidiano, pois, assim, cessará o diálogo interno, e com ele o fim de sua história pessoal, que é a relação causa-efeito entre nosso passado e nosso presente.
- Seja sempre autêntico, dando o melhor de si a todo o momento. Dessa forma esse ato se transformará num hábito.
Acima da terra, das pedras, das montanhas, o céu Vai tornando-se claro. A última estrela brilha como prata. Para saudá-la o tambor bate. A bruma ainda flutua entre ilhas, Que se nos apresentam como pequenos Montes, escondendo suas íntimas verdades de altos cimos. Ele tira a roupa em cerimônia para o Todo, como se fosse rito. A noite se dissolve até o nada A luz o Sol que nasce. Nú se deixa ver pelo Sol que apaixonado se avermelha. Soam as flautas Inicia-se o dia. Nas casas, grandes ou pequenas, de um lado para outro da tribo as pessoas acordam. Um antropólogo, certa vez, disse: os Xamãs são os domesticadores do caos” ou “os construtores da cultura” Onde reside a sua habilidade? Onde está seu segredo? Por onde começa o seu poder? Em: O respeito à natureza. O participar da dança do todo. A harmonia em integrar os acontecimentos constantes A intimidade com os elementos. O planificar o imprevisto. O ter a visão para conduzir sua tribo. A compreensão da dependência. O conhecer os limites. A segurança de estar em comunhão. A paz do não conflito. O aceitar-nos. A amar-nos. A vida em Tao. Saber se somos pêssegos ou bananas. Entender nossos limites. Educar-nos. Chegar a ser, tentando. Saber-se humildemente ligado. Concatenado. Em equilíbrio. Ser parte da dança. Tecer nossa natureza com o Todo. Desprender-nos Com sapiência de átomo. Não ter medo de explodir. De ser só um som. De mutar-nos. Transformar-nos. Desintegrar-nos. Renascer novamente ressuscitar. Saber que nada acaba, senão que se transforma. Aprender a ser leves. Sábios, alegres, memoriosos como o ar; Perseverantes, compreensivos e entregues com a água. Humildes, seguros e conscientes como a terra. Apaixonados, exigentes e aceitados como o fogo. Aprender a ser pedra. Juan Uviedo
Sejam bem-vindos!
Munay,
Wagner Frota