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Exploração da Xamaria do Povo Q'ero

Napaykuna!
Utilizando de inúmeros subterfúgios (profecias, inocência dos incautos,  apropriação cultural, etc.), a ganância do ser-humano a cada dia nos surpreende. Agora, além de se apropriarem dos conhecimentos ancestrais de povos nativos, eles aproveitam o ressurgimento do Sagrado Feminino e transformam cerimônias nativas em ritos iniciáticos.
O Povo Q’ero é uma tribo andina que vivem nas montanhas próxima a cidade de Paucartambo (4.200 mts), em pequenas aldeias. No ano 1955, os Q’eros foram “descobertos” por alguns antropólogos que desde então começaram a apropriarem-se de sua cultura e explorarem sua espiritualidade chegando a afirmarem que eles são os descendentes dos Inkas que fugiram para as montanhas quando da invasão espanhola em 1532.
Aproveitando-se da ingenuidade deste povo que tem o prazer de compartilhar seus conhecimentos ancestrais, esses antropólogos (juntamente com outros ocidentais) começaram a explorar os Q’eros e comercializar sua sabedoria xamânica. Alguns chegaram ao cúmulo de usarem esses conhecimentos e criarem uma “religião”, onde eles se auto-designam como “Inkas Contemporâneos” e saem mundo a fora pregando o Retorno do Inka (o Filho do Sol) aproveitando-se de uma antiga profecia andina em que chegará o tempo em que todos nós seremos “Seres de Luz”.
Outros criaram ritos iniciáticos, intitulando-o de “Munay-ki”, no qual maquiaram algumas cerimônias para serem degustadas por neo-xamãs. O mais incrível é que estas pessoas nem sabem diferenciar um rito de uma cerimônia, mas seguem a sua jornada mesmo assim.
Outro fato que ocorre neste processo de exploração dos Q’eros e de que alguns dos nativos se rendem ao vil metal, enganando pessoas incautas e se intitulam xamãs, chegando a usurpar os nomes de xamãs conhecidos e até de alguns falecidos. Recentemente fui surpreendido ao ver um nativo Q’ero usando o nome de um dos meus mentores, que faleceu em 2004. Enquanto isso Don Manuel Q’uispe deve estar olhando das estrelas esse indivíduo, com compaixão e triste por ver o seu nome sendo explorado por outra pessoa que não seja digna dele.
O mesmo ocorreu com seu filho, Don Nazário Q’uispe a quem conheço desde quando seu pai ainda estava entra nós e que me acompanha em minhas jornadas pelas montanhas andinas, compartilhando sua sabedoria.
A poucos meses, fui surpreendido ao saber que um grupo de mulheres ocidentais e alguns Q’eros, aproveitando-se do crescente ressurgimento do Sagrado Feminino, pegaram uma cerimônia andina e a transformaram numa Iniciação chamada “Ñusta Karpay”, dividindo-a em 7 ritos. O fato é que em 2010, umas turistas holandesas ao observarem a Dona Maria Apaza (xamã Q’ero) fazer uma oferenda que se realiza somente com mulheres, a “Ñusta K’allpachiy”, se apropriaram daquela cerimônia e criaram este rito que agora roda o mundo.
A Ñusta K’allpachiy visa reforçar o laço feminino entre as mulheres e conectar suas energias com as montanhas sagradas e águas das suas lagoas. Porém, essas mulheres ocidentais aproveitando que Dona Maria Apaza não fala nenhuma palavra de espanhol, modificaram o conteúdo para usar em workshops e vender as mastanas (mantas andinas) durante o mesmo.
Infelizmente esse tal “Ñusta Karpay” é mais uma invenção comercial feita por pessoas sem escrúpulos que utilizam conhecimentos ancestrais para enganar mulheres e homens, pois esse é aberto a eles também, outro fato que estranhamos…mas até que nem tanto, já que constantes esses pseudos neo-xamãs chegam a inventar cerimônias inexistentes dos xamãs Q’eros.
Mais uma vez alertamos a todos (as) que procurem investigar mais profundamente sobre determinada cultura, antes de participarem de uma cerimônia, rito ou workshop que promete iniciá-los com conhecimentos ancestrais que geralmente devem ser entregue somente aqueles que estudaram por um período mínimo de dez anos e tenham passado pelos verdadeiros ritos iniciáticos daquela Tradição.
Munay,
Wagner Frota