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Lenda do Camundongo

Era uma vez um Camundongo que vivia numa tribo dos Camundongos do Vale Verdejantes cheio de vida e alegria. Num certo dia o Camundongo começou a escutar um barulho de água correndo e ficou indagando de onde vinha aquele barulho, perguntava a um e a outro, e escutava sempre a mesma resposta: – Barulho? Que barulho?

Encucado por ninguém ter-lhe dado a resposta, ele partiu para descobrir de onde vinha aquele barulho. Caminhou por horas a fio até chegar a entrada da floresta que aparecia a sua frente. Pediu licença a Mãe Terra para entrar na floresta, respirou fundo e começou andar mata adentro até escutar uma voz que dizia:- Ei! Quem é você? Para onde esta indo com tanta pressa?

Um calafrio percorreu pela sua coluna, era o medo que tomava conta do seu ser. A voz continuou a insistir na pergunta, e o Camundongo assustado olhou em volta e não viu ninguém ao redor. A voz vendo a aflição do Camundongo falou outra vez:- Estou aqui em cima da árvore.

O Camundongo olhou para cima e viu no galho da árvore um Texugo com seus grandes olhos a indagar o jovem Camundongo. – Você ainda não me respondeu.

Com voz trêmula, o Camundongo falou: – Sou um Camundongo do Clã dos Camundongos.

– E para onde você estava indo com tanta pressa? Perguntou o Texugo.

– Estou querendo descobrir que barulho é esse de água que estou escutando. Mas quem é o senhor?

– Eu sou o Professor Texugo.

– Já que o senhor é professor, poderia me auxiliar a desvendar esse mistério.

– Eu estou com um pouco de pressa, mas posso leva-lo até alguém que poderá ajudar você. Falou o Texugo calmamente.

O jovem Camundongo aceitou a oferta do Texugo e seguiu-o até a beira do rio. Ele estava deslumbrado com tanta fartura de água, e por ter chegado ao local da onde vinha o barulho que havia deixado curioso. Agradeceu a Mãe Terra por estar tendo a oportunidade de ver tamanha beleza. O Texugo chegou mansamente e falou com o jovem Camundongo: Venha conhecer a Guardiã do Rio.

Do outro lado do rio, o jovem Camundongo pode ver no meio de um arbusto que saía d’água, uma criatura com dois olhos pretos enormes no seu pequeno corpo verde que se confundia com as folhagens. O Texugo ansioso, tomou novamente a palavra e fez as apresentações:

– Dona Rã, este aqui é o jovem Camundongo do Clã dos Camundongos do Vale Verdejante.

Dito isso, o Texugo pediu licença e deixou os dois a sós. O jovem Camundongo ficou em silêncio contemplando aquele lugar até Dona Rã tomar a iniciativa e começar a falar:

– Você está gostando do que está vendo no Rio? O Camundongo acenou que sim com a cabeça e começou a explorar a beira do rio até ver refletido o seu rosto n’água perguntando ao reflexo: – Ei! O que você está fazendo aí dentro?

A Rã riu e falou: – Calma é apenas o seu reflexo dentro do rio. Agora, se você quiser ver realmente algo majestoso, dê um pulo bem alto olhando para cima e verá a Montanha Sagrada.

O Jovem Camundongo se encolheu o máximo que pode e tomou um grande impulso. Era magnífico a Montanha que surgiu a sua frente, nesse pequeno espaço de tempo que esteve no ar, ele viu a Águia Pintada que circulava no topo da montanha, pode vislumbrar as estrelas que surgiam naquele instante no céu.

Em seguida ele caiu dentro d’agua e nadou até a margem do rio reclamando da Rã que não conseguia segurar a risada: – A senhora me enganou e agora fica rindo de mim. Vou embora e nunca mais volto aqui.

– Calma meu jovem, por que você está tão bravo? Afinal você não conheceu o lugar de onde vinha, o barulho que o deixou curioso?

– Sim. Respondeu o Camundongo.

– E você não vislumbrou a Montanha Sagrada que só a Águia Pintada tem a oportunidade de viver lá?

O Jovem Camundongo, acenou com a cabeça concordando com a Dona Rã.

– E você não mudou de nome ao contemplar a Montanha Sagrada?

– Mudei de nome? Indagou o Camundongo.

– Sim. Respondeu a Rã. – Antes você era o Camundongo, agora você é o Camundongo Saltador.

O Camundongo pensou e viu que a Rã tinha razão. Pediu desculpa a ela, disse que voltaria em outra ocasião e voltou radiante de alegria para o Clã dos Camundongos no Vale Verdejante. Não importava se outros de sua tribo não quisessem ouvir de onde vinha o barulho do rio, se existia a Montanha Sagrada e as belezas que a Mãe Terra nos oferecia. Não o incomodava se eles iriam acreditar nele ou não, o importante era que ele tinha visto todas essas belezas e que havia ganho outro nome. Pois agora, ele era um Camundongo Saltador.

Passado algum tempo entre seu povo, a lembrança daquele dia ardia na sua mente e no coração, e um dia ele foi até a fronteira do Vale Verdejantes e olhou a pradaria. Viu as águias voando no céu e tomou a decisão de ir até a Montanha Sagrada. Respirou fundo e correu o mais rápido que pode até as pradarias. O seu coração pulsava como numa mistura de excitação e medo.

Correu até encontrar o Sítio do Sábio. Controlando a sua respiração do esforço empreendido, ele avistou um Rato Ancião. O Sítio era como se fosse um asilo para os ratos, havia muito que fazer ali.

– Oi. – disse o ancião – Seja bem-vindo.

– Você é um grande rato, – disse Camundongo Saltador com todo respeito. – Este lugar é deslumbrante. E as águias não podem vê-lo aqui.

– Pois é, – disse o ancião – e daqui se pode ver todos os animais da pradaria.

– Que maravilha – falou Camundongo Saltador – Você também pode ver o rio e a Montanha Sagrada?

– Isso eu não posso te responder jovem. – respondeu o ancião – Sei que existe o rio. Mas tenho medo que a Montanha Sagrada seja uma lenda.

“Como ele pode dizer uma coisa dessas?” – pensou o jovem camundongo – A magia da Montanha Sagrada não pode ser esquecida.

– Muito obrigado pela sua hospitalidade, – disse Camundongo Saltador – mas tenho que buscar a Montanha Sagrada.

– Você é um tolo. – falou o ancião – Olhe todos aqueles ponto no céu! São águias, e elas irão lhe pegar!

Foi uma decisão difícil para Camundongo Saltador, mas ele estava determinado a ir a Montanha Sagrada e voltou a correr. O terreno era acidentado, e ele podia sentir as sombras das águias as suas costas durante todo percurso.

Durante a sua jornada ele encontrou em seu caminho um grande tufo de pêlos com chifres escuros. Era um búfalo. Camundongo Saltador não acreditava no que estava vendo deitado à sua frente. “Que ser magnífico”. – Pensava ele. E resolveu aproximar-se.

– Olá irmão. – falou o búfalo – Obrigado por me fazer uma visita.

– Oi. Por que está deitado aí Grande Búfalo?

– Estou morrendo. – disse o búfalo – E o Rio Mágico me disse que apenas um olho de camundongo poderá me curar. Mas camundongo não existe.

Camundongo Saltador ficou em estado de choque. “Um dos meus olhos!” – pensou – E saiu em disparada até um canteiro de cerejas. Mas sua respiração era difícil e muito vagarosa, tal qual os seus passos agora.

“Ele irá morrer, se eu não lhe der um dos meus olhos.” – pensou – “Ele é um ser magnífico para deixa-lo morrer”.

Voltou aonde havia encontrado o búfalo.

– Eu sou um camundongo. – falou com voz trêmula – Você é meu irmão, não posso permitir que morra. Tenho dois olhos, fique com um deles para você.

Após pronunciar essas palavras, o olho do Camundongo Saltador saiu de sua órbita e o búfalo ficou bom.

– Obrigado irmãozinho. – disse o búfalo – Sei que procuras a Montanha Sagrada, como também sei de sua visita ao rio. Você me deu vida para que eu possa dá-la ao povo. Serei seu irmão para sempre. Corra sobre meu ventre, e eu o levarei até o cume da Montanha Sagrada. As águias não poderão vê-lo enquanto estiver correndo debaixo de mim. Só verão o meu lombo.

O Camundongo Saltador correu debaixo do búfalo, protegido e seguro, mas muito assustado e com um único olho. Os enormes casco do búfalo tremia seu mundo a cada passada que dava. Finalmente eles chegaram a um local, e o búfalo parou.

– Devo deixá-lo aqui irmãozinho. – falou o búfalo…

Camundongo Saltador passou a investigar o novo ambiente em que estava. Havia mais coisas ali do que em outros lugares que tinha conhecido. Subitamente ele encontrou um lobo cinzento, que estava sentado ali como se estivesse a contemplar a Mãe Natureza.

– Oi, irmão Lobo. – disse ele.

– Lobo! Lobo! Sim, isto é que eu sou, um lobo! Mas sua mente voltou a ficar confusa, e ele sentou em silêncio a contemplar a natureza, esquecido de quem era. E cada vez que Camundongo Saltador o lembrava de quem ele era, ele ficava entusiasmado com a revelação, mas em seguida voltava a esquecer.

“Que Grande Ser.” – pensou o camundongo – ” Mas ele não tem memória.”

Camundongo Saltador manteve-se em silêncio e passou a ouvir as batidas do seu coração até tomar uma decisão. Foi até onde o lobo encontrava-se sentado e falou:

– Irmão Lobo! – disse Camundongo Saltador.

– Lobo! Lobo! – exclamou o lobo…

– Por favor irmão Lobo. – disse Camundongo Saltador – Escuta-me. Eu sei o que pode cura-lo. O meu olho. E quero dá-lo a você. Você é maior que eu. Sou apenas um camundongo. Tome-o.

Mal o Camundongo Saltador disse essas palavras, seu olho saiu de sua órbita e o lobo ficou bom.

Lágrimas corriam pelas bochechas do lobo, mas o camundongo não podia mais vê-lo, pois agora estava cego.

– Você é maravilhoso irmão. – disse o lobo – Agora minha memória esta boa, mas você esta cego. Eu sou o Guia da Montanha Sagrada. E o levarei até lá. Lá existe um grande Lago Medicinal. O lago mais bonito do mundo. O mundo encontra-se refletido lá.

– Por favor, leve-me até lá irmão lobo. – disse Camundongo Saltador.

O lobo conduziu-o através dos pinheiros até o Lago Medicinal. Camundongo Saltador bebeu da água do lago. O lobo descreveu-lhe a beleza do lugar.

– Agora tenho que ir, – disse o lobo – pois tenho que guiar os outros, mas sempre que precisar estarei com você.

– Obrigado, meu irmão. – agradeceu o camundongo assustado por ter que ficar só.

Camundongo Saltador sentou-se, tremendo de medo. Não adiantava correr,pois ele estava cego, embora soubesse que uma águia o encontraria ali. Sentiu uma sombra às suas costas e escutou os ruído que fazem as águias. Preparou-se para o ataque. E a águia atacou! Camundongo Saltador adormeceu.

Despertou surpreso por estar vivo e enxergando de novo.

Estava tudo turvo, mas ele conseguia ver nebulosamente.

– Posso ver! Posso ver! – disse Camundongo Saltador.

Uma forma enevoada aproximou-se de Camundongo Saltador. Ele tentou ver melhor, mas continuo apenas enxergar melhor, mas continuo a ver apenas uma mancha.

– Olá, irmão. – falou uma voz – Quer um pouco de feitiçaria?

– Feitiçaria para mim? – perguntou Camundongo Saltador – Sim!

– Então abaixe-se o mais que puder. – disse a voz – Agarre-se ao vento e tenha confiança.

Camundongo Saltador obedeceu. Fechou os olhos e agarrou-se ao vento, levou mais e mais para o alto. Camundongo Saltador abriu os olhos e eles estavam límpidos, e quanto mais alto ele subia, mais límpidos tornavam-se seus olhos. Camundongo Saltador viu seu velha amiga sobre um canteiro de lírios no Lago Medicinal. Era a Dona Rã.

– Você tem um novo nome. – falou a rã – Você é uma Águia Pintada.