O Maia, povo de fortes tradições religiosas e espirituais, lograram preservar a sabedoria de seus antepassados, apesar de todo banho de sangue que os espanhóis realizaram ao invadir as suas terras. Hoje, o mundo passa por grandes transformações e apesar de uma mescla de cultura produzir um “sincretismo colorido”, ainda podemos presenciar com todos os nossos sentidos os verdadeiros cultos Maias, no qual o homem se vincula com os deuses através de um mundo simbólico e poético ritual.
A festa dos mortos é uma das cerimônias sagradas fundamentais da comunidade Maia, durante a qual, desde tempo ancestrais, os vivos fazem oferendas aos mortos. Presenteiam os mortos com flores, comidas e bebidas, com o objetivo de manter o equilíbrio do cosmo, preservando a grandeza da vida e seu sentido sagrado.
Atualmente, a liturgia dos mortos envolve uma série de relações entre vivos e mortos, baseada nas idéias sustentadas pela fé católica. O banquete dos mortos, o Hanal Pixan possui muitos símbolos em sua beleza austera. Cada família elabora seu próprio altar de três níveis que instala em um lugar especial da casa. No primeiro nível se põem a roupa, no segundo os alimentos, flores, frutas e brinquedos (oferenda para as almas das crianças) e no nível superior se coloca uma cruz fabricada de ramas. Para as almas solitárias (almas sem parentes), se colocam xícaras com porções de comida e bebida em uma árvore na entrada ou na porta da frente da casa.
O caminho é iluminado por tochas que orientam as almas até a oferenda que é iluminada por velas coloridas, depositadas em candelabros pintados a mão. Se na oferenda encontramos uma vela negra, esta representa uma mulher que foi viúva, uma vela branca a uma virgem falecida e a azul, a uma criança. Os parentes e amigos vivos oram, cantam e dançam fervorosamente pela manhã, a tarde e a noite. Existe uma atmosfera saturada de perfumes, no qual se destaca o copal que leva as divindades pequenas nuvens de fumaça que envolvem os homens, defuntos e deuses que se encontram reunidos para desfrutar do banquete preparado especialmente, com dias de antecipação, para um evento de tal magnitude. Os pratos mais deliciosos são esquentados num buraco na terra, no calor das pedras, lentamente, durante toda a noite.
A cozinha Maia tem uma grande variedade e é altamente colorida. É rica em condimentos como pepitas, pimentas e chiles que quase não são picantes, e são misturados cuidadosamente em panelas de barro até obter uma pasta tal como é feita com os adubos.
Alguns dos mais deslumbrantes pratos que se consome nestas datas sagradas, são feitos de milho, cerdo, veado e frango. Todas as comidas se acompanham de um delicado licor de anis chamado Xtabentún, e com doces feitos frutas regionais, coco, a mandioca e o sapoti, todos eles frescos e cristalizados com açúcar. As rosas amarelas, brancas, chá e vermelhas, são oferendas universais que sacia a vista e o olfato em todos os altares.
Oferecendo parte de si mesmo as divindades e aos seres que habitam uma dimensão paralela, os Maias nos revelam sua profunda união com a terra e o sentido mágico da vida.
Muitos irmãos e irmãs passaram “recentemente” a percorrer seu caminho na Estrada Azul do Espírito. Muitos de nós lamentamos a ausência deles, cada um do seu jeito, uns escrevem, outros choram, uns se recolhem e outros dançam. Guerreiros e guerreiras que passam seguindo os ensinamentos dos antigos xamãs conseguiram aceitar o êxtase sombrio e brilhante da morte conseguindo viver sua vida plenamente com impecabilidade. Só aqueles que vivem sua vida terrenas plenamente podem decidir morrer, precipitar-se no vácuo e exultar seu regresso ao Grande Mistério e continuar vivendo.
A maioria de nós diz acreditar na vida além da morte. Muitas pessoas vão a templos, sinagogas ou outro centro religioso onde a vida eterna é geralmente proclamada. Recitando palavras rituais que afirmam a nossa contínua existência além da morte.
Mas será que realmente acreditamos na vida além da morte? Se assim fosse não nos apegaríamos tão freneticamente ao nosso corpo. Ora! Se acreditamos nisto, não seria necessário nos prepararmos para esse dia? Afinal é a única coisa certa na nossa vida. O povo Maia acreditava na existência contínua além da morte, o Hanal Pixan é uma forma de demonstrar isso. A Bíblia diz: “muitos os chamados mas poucos são escolhidos.” Já os Maias perguntavam: “O que eu preciso fazer para ser escolhido?” Ao estudar esse povo chegamos a conclusão para está resposta é a de aceitar a morte a partir de uma condição de Ser intensificado. Na tradição Maia a alma transcende o belo terror dos opostos da vida terrena e volta para “Casa”. Essa Casa é sua unicidade final com o Grande Mistério em todo seu escuro e brilhante esplendor.
Creio que devemos voltar a nossa energia para conquistar a vitória da vida sobre a morte para nós mesmos, os outros e o mundo como um todo, podendo ascender a uma dimensão de luz eterna, levando conosco o cosmo. Talvez devamos fazer de nossa vida, aqui e agora, danças da criação sobre a superfície de um Mar infinito e imortal. Se pudermos experimentar nossas vidas dessa maneira, então poderíamos tornas os deuses que fomos destinados a ser.
Munay,
Wagner Frota, “Jaguar Dourado” (Xamanista e Membro-fundador do Clã Lobos do Cerrado).